Entre o Sóbrio e o Ébrio - William Contraponto

 



Entre o Sóbrio e o Ébrio 

William Contraponto 


Entre o sóbrio e o ébrio

haverá uma conexão;

entre certeza e mistério

haverá revelação.


O que a consciência vigia,

a dúvida põe em tensão:

somos o elo que falha

na busca por direção.


A fronteira não é ameaça,

é estado, é condição;

quem a encara de frente

aprende a nomear o não.


Entre o sóbrio e o ébrio

haverá uma conexão;

entre certeza e mistério

haverá revelação.


Nenhum mapa nos garante,

nem promessa em previsão;

o sentido não é dado,

germina na interrogação.


Entre o delírio e a lógica

segue a mesma pulsação:

a lucidez é ferida,

e viver é insurreição.


Entre o sóbrio e o ébrio

haverá uma conexão;

entre certeza e mistério

haverá compreensão.







Na Esteira das Horas - William Contraponto

 



Na Esteira das Horas

William Contraponto


Corremos sem perceber,

no giro que nunca demora;

a vida tenta nos deter,

mas seguimos na esteira das horas.


O tempo caminha sem sapatos,

não pede licença ao chão que pisa;

passa leve como quem destrói,

e pesa fundo como quem avisa.


As horas nos puxam pelo fio

que tecemos sem perceber;

às vezes guia, às vezes trilho,

às vezes só nos faz correr.


Corremos sem perceber,

no giro que nunca demora;

a vida tenta nos deter,

mas seguimos na esteira das horas.


O relógio é cúmplice e carrasco,

marca destinos e omissões;

mas cada ponte entre dois instantes

se constrói com decisões.


Há quem tente frear o passo

com calendários e ilusões;

mas o futuro não negocia,

ele empurra as estações.


Corremos sem perceber,

no giro que nunca demora;

a vida tenta nos deter,

mas seguimos na esteira das horas.


E quando o dia já se cansa

de colecionar nossas demoras,

entendemos que somos feitos

de breves e frágeis agoras.


Corremos sem perceber,

até que a verdade aflora:

não escolhemos começar,

mas escolhemos como o tempo nos devora.





C.R.: O Desamparo Tem Causas Sociais, Mas Consequências Íntimas - William Contraponto

Considerações Reflexivas:


O Desamparo Tem Causas Sociais, Mas Consequências Íntimas

William Contraponto 


O desamparo raramente nasce do coração que o sente, embora seja no coração que ele se instala. Há dores que o indivíduo carrega como se fossem exclusivamente suas, quando na verdade nascem na arquitetura invisível do mundo. Vivemos num tempo em que responsabilidades coletivas se transformam em culpas pessoais: o desempregado é visto como preguiçoso, o pobre como desorganizado, o ansioso como fraco, o exausto como alguém incapaz de administrar seus próprios recursos. Assim, problemas estruturais retornam ao sujeito como defeitos morais, enquanto o sistema lava as mãos e o indivíduo lava lágrimas. Uma sociedade que naturaliza desigualdades produz cicatrizes que não aparecem no noticiário, mas latejam no peito às três da manhã. As instituições falham para todos, porém é a pessoa isolada que sangra, porque o que nos atinge em massa nos desespera sozinhos. A solidão que tanto dói não é apenas íntima, ela é fabricada por portas fechadas, direitos negados, vidas reduzidas a números e expectativas esmagadas por um mundo que exige mais do que oferece. O sujeito desamparado não é um erro; é um resultado. Mas a consciência desse fato inaugura a resistência. Quando alguém percebe que sua angústia não é defeito pessoal e sim consequência de um cenário desequilibrado, a dor deixa de ser culpa para se transformar em compreensão e luta. Se o desamparo é social em sua origem, a superação também deve ser social. Ela se constrói no encontro, na solidariedade, no gesto que devolve humanidade ao outro. A cura do íntimo começa no coletivo, porque a dignidade de um só depende da justiça de todos.






Máquina do Infinito – William Contraponto

 



Máquina do Infinito

William Contraponto 


O céu repete antigos labirintos, 

com lógica de um sonho recorrente, 

estrelas são os cálculos extintos 

de uma mente que pensa eternamente. 


Os átomos se alinham no compasso 

do tempo que não sabe pra onde vai, 

há dúvida moldando cada traço, 

e o caos revela a ordem que se esvai. 


Um pensamento pulsa entre os planetas, 

em código que nunca se decifra, 

e o vácuo grita verdades secretas 

que a razão recusa, mas registra. 


O universo é só um pensamento, 

máquina viva sem operador, 

reflete em mim seu movimento, 

sou engrenagem do seu motor. 


As galáxias giram como ideias, 

que buscam forma e nome sem cessar, 

mas toda luz produz suas aldeias 

de sombra que ninguém pode evitar. 


Se o mundo é mente, somos devaneio

 de um cérebro em combustão, 

e a vida, esse constante entremeio 

entre a matéria e a percepção. 


O universo é só um pensamento, 

máquina viva sem operador, 

reflete em mim seu movimento, 

sou engrenagem do seu motor. 



#williamcontraponto #poeta #poesia #maquinadoinfinito




O QUE FICA DO QUE FOMOS - WILLIAM CONTRAPONTO



 O Que Fica do Que Fomos

William Contraponto


Se um dia eu cruzar a noite inteira

e o corpo cansar do próprio som,

não esperarei por luz ou fronteira;

apenas o rastro do que ainda sou.


Porque além da morte não há segredo,

não há espírito buscando um lar.

Há só memória vencendo o medo

e o que deixamos no fundo do olhar.


O que fica do que fomos é o gesto,

é o nome lançado ao vento incerto.

Não é alma pairando em algum lugar,

é a lembrança que insiste em continuar.

E se eu não voltar, que seja assim:

no que construí, no que vive em ti.


Quando a última porta se fechar,

não haverá juízo nem muralha.

A vida é um barco que aprende a passar,

e cada travessia ensina – e falha.


O que chamam alma, eu chamo história:

a voz simples do que se amou.

É a cicatriz guardando a memória

de cada luta que alguém lutou.


O que fica do que fomos é o gesto,

é o nome lançado ao vento incerto.

Não é alma pairando em algum lugar,

é a lembrança que insiste em continuar.

E se eu não voltar, que seja assim:

no que construí, no que vive em ti.


Se deixo um verso solto pela rua,

que seja luz pra quem quiser seguir.

Não há mistério entre sombra e lua:

há só a marca do que se quis sentir.

E quem nos guarda não é o além,

é quem repousa o nosso bem.


No silêncio que sucede o último passo,

ninguém nos chama para salvação.

O tempo recolhe o nosso espaço

e entrega aos outros a continuação.


Se algo vive depois do adeus,

não são anjos nem eternidade:

é o que plantamos no chão dos seus,

a parte nossa que vira verdade.


O que fica do que fomos é o gesto,

é o nome lançado ao vento incerto.

Não é alma pairando em algum lugar,

é a lembrança que insiste em continuar.

E se eu não voltar, que seja assim:

no que construí,

no que vive em ti,

no que chamam fim

e que eu chamo de existir.